21 April, 2010

Permitão



Cara, preciso contar uma coisa pra vocês. Dividir a experiência de um momentinho que gerou um movimentão. Esse fim de semana fui pro curso de ecoconstruções, no Ipema, em Ubatuba,uma cidade de SP. Assim que fiquei sabendo do curso,me encantei e quis muito ir, então me matriculei e fiquei no aguardo. Divulguei pra todo mundo que eu conhecia, tentando arranjar amigos pra ir comigo, não queria ir sozinha. Quase amarrei a Mari Kuroyama pra ir junto,mas ela desistiu. Putz, não arrumei ninguém. Bom, vamo-nos, sozinha mesmo. Não sei se por tranquilidade interna ou se por bom efeito do tratamento pra ansiedade que venho fazendo com a plantinha hipérica, não explodi de ânsias de dar errado e de me implodir de mini idéias. Arrumei as coisas em cima da hora e simplesmente fui.
Na hora de sair de casa, dei uma vacilada, fiquei meio ansiosa, e o Fred foi me deixar na estação, ele ia atá a rodoviária comigo. Chegando na roleta, eu passo, e meu bilhete único zerou justo na hora em que ele ia passar. Ele olha pra mim e fala: "Vai gata,arrasa!" ...Cara, naquele momento, eu pensei na hora: Bicho,isso é Deus dizendo: Vai sozinha,desamarra, tu consegue ué!Abri o peito e falei, que venha! Se der errado alguma coisa,eu dou um jeito. Se precisar de grana a mais, saco do cheque e depois eu vejo. Eu acalmei a mim mesma numa manha materna maneira.. e segui. E seguiu tudo acontecendo tão sincronizado, tão belo e natural, que eu sorri pro mundo. De verdade. Ternura. Eu tinha que chegar em 40 minutos, cheguei em 35. Comprei a última passagem do último ônibus pra Ubatuba. E fui. Sentada no ônibus, vejo uma negra linda, alta, com aqueles cabelos de mundo todo que só os raízes tem. Viemos conversando, nem sentindo o engarrafamento absurdo que tomava conta das saídas de São Paulo. Tanto que chegamos em nosso destino atrasadas em 3 horas, o ônibus pra eu ir pro Ipema já não passava mais naquele dia. E aquele anjo, aquela beleza linda marrom dourada, me chama pra dormir na casa dela, e pegar o ônibus no outro dia. Cara, caiu do céu! Eu ia ficar na friaca da rodoviária, e Deus me deu de presente uma pessoa boa pra me acolher,assim, de graça! E ainda era num sítio, onde ela morava...cheio de plantas,e mãezitas e apelidos de infância. Dia seguinte, me despeço daquele amor e vou pro meu rumo. Descendo do ônibus, tu faz uma pequena trilha pra chegar até o local, e lá eu fui pra um dos melhores fins de semana da minha vida paulista.
O curso foi fantástico, sobre paredes de pau a pique, cob e cordwood. Cara, vivenciar a permacultura, amplamente, 24hrs por dia,sabe o que é isso? É tu construir tua casa,captar a água da chuva que desce pela tua torneira, é tu fazer xixi no teu banheiro seco, olhando pra uma floresta toda viva, toda se mexendo, toda coexistindo contigo. É tu ver uma aranha passando teu lado e nem a confiança pra ti, porque ela não quer te machucar. Ela só ataca porque ela se defende,quando a gente invade o território dela, ou quando a gente anda por aí sem pensar que existem vidinhas que a gente pode esmagar com nosso pezão gigante. Cara,tu sabe que beleza tu fazer teu primeiro pipi do dia ouvindo um monte de pássaro cantando no barulho das folhagens? Magical.
Contemplação. Plena. De tudo e de todos. Falar pra quê, eu tava absorvendo tanta coisa que eu não queria fazer mais nada além de. E tinha também uma cachoeira. Pequena,carinhosa,sereia. No refeitório,comidinhas colhidas de lá mesmo, ou trocadas entre o Instituto e os quilombolas que moram ao lado, resistentes e descendentes diretos dos escravosnegodanadobesourofugido,de feitores e troncos, há quatro séculos atrás.
As Crianças, ah sempre elas, enchendo nossos olhos de esperança. Tinham gêmeas,Maori e Mahi-Rá, gritando fiiiiiiino que nem garoa. Tinha,como sempre, o filho alheio que me cativou no coração. Como sempre,os meninos. O nome dele é Itaipu, e ele tinha tanta vida, tanta força, tanta expressão, que o corpinho de 6 anos dele não cabia tudo aquilo, e ele explodia numa chuva de carinhas emotivas pra cada pequena frase que ele dizia, um encanto de ouvir e olhar!
Lá onde eu estava não existia remédio,porque não existia ansiedade, era outro tempo, éramos nós e Ele. Cada um se observando, se cuidando;cada um no seu tempo particular e global. Canção do Universo.
Na hora de voltar, senti de pouquinho a cidade voltando em mim. Meu Deus o horario do ônibus o engarrafamento trabalho amanhã meu deus meu Deeus! E fui ficando ansiosa,com medo de perder. Saí correndo, vim de bikini molhado e tudo,veículo adentro. Hoooras se passaram, esfriava lá fora e lá dentro. Desci finalmente quase dez da noite, e rumei pra casa. Fui direto dormir pra acordar SãoPaula novamente. Acabei catando um resfriado, que a ansiedade me deu de presente de boas vindas.
Mas sabe, eu peguei um baita respiro, nessa viagem. Não vou mentir,acho que Poa me deixou com um pouco de medo de ficar sozinha. Acho que traumatizou um pouquinho,sabe? Que nem quando tu olha para aquela vodka barata que tu vomitou horrores há meses atrás, num arrepio de sai daqui. E eu entendi porque essa sensação ficou tão forte em mim...porque eu me apeguei demais a idéia da minha própria solidão, acho até que eu tive pena de mim por um certo tempo, que eu me superprotegifilhaúnica. E numa descoberta muito da surpreendente, eu lembrei que eu consigo, eu sempre consegui, eu só tinha parado de tentar. Sabe como é, a venda dormiu nos olhos e eu tinha esquecido de percebê-la.Mas agora,que eu toquei nela novamente, renasce uma baita vontade de estrada, de estrada forte, longa e inesperada. Bah mas que desejo de sair por aí, Minha América Latina,minha veia aberta. Mas deixa estar, vamo sossegar que o plasma dos sonhos de modelar sempre tomam forma por si mesmos. O Tempo e o Universo dançam um afoxé só deles, bem pegado,bem marcado. Que é pra gente só entrar na roda, ferver a saia e nunca mais esquecer de chorar, alegre e pulando dos carnavais que ainda nem vieram mas que sempre chegam,onde houver música e vontade de festejar.

09 March, 2010


Ardendo,derretendo e meltando sublime. Balé das águas de dentro e o desejo de fontifiquemos. Falar pra quê, que jorre.

27 February, 2010

pontinho de luz.







Dias intensos de muitas curvas, intuitos e despretensões que jogaram chão abaixo todas as roupas que meu corpo e alma pudessem vestir. Uma borboletinha pequena fez baila a mim e minhas gigantezas até virarmos poça de cara dura das chuvas de ontem. As asas se foram, mas o bater frenético dos vôos ainda brisa aqui dentro, mente-casa, como se a qualquer hora aquele cheiro de lençol da pele viesse me abraçar de novo.

19 February, 2010

Lhenos de mi alma



É pra lá que eu vô imbó quando a maré inchê.