02 August, 2011

trâmo









 Em meu corpo-cidade habitam homens, mulheres, crianças, passarinhos. Bailam todas as plantas que nasceram e nasceriam neste corpo que é palco! Nele, se sorri por nada e nunca se sai de cena. Nele, cirandam os homens que cravaram bandeiras no meu ventre e partiram; Cirandam mulheres, com dedos finos e vozes altas. Correm por minhas costas barulhentas e coloridas os filhos que não tive, as crianças pé-sujo das risadas fartas e bolas perdidas. Em meu ombro, uma casinha amarela com um pé de jambo, onde mora meu pai e seus cigarros, mamãe e seus silêncios. Uma casinha de panelas ao chão e tangos ao alto.  E tudo isso que em mim reside é leve, é parte. E eu, que encontrei tanto amor, tanto sorriso de graça, chorei de saudade. De cada um que esbarrei, ganhei presentes, troquei partes. A vida corria livre,despenteada. À esses dias, eu rendo meu corpo, dou minha beleza maior. A pureza de estarmos juntos, livres, de sermos tão delicados em nossos elos. E vieste, pálido e alto. Vieste, ruiva e fogo. E esses dias tão intensos agora se confundem com as pernas de São Paulo, tão estampadas e brilhantes, com longos calcanhares de cimento e trânsito. Um momento, eu preciso de ar fresco. Pra entender onde estou e o quê de mim foi feito. Enquanto isso, rios se encontram, carros se aglutinam sob o farol, o tempo fita. Libertando, libertemos.