04 January, 2007
eqüistazy
Aquele lar que era nosso já não é de ninguém. O sofá, as piadas... tudo parece tão velho e desajustado no corpo que tentar vesti-lo é fazer-se boneca de pano. Sinto a isso como um vomitar-se, pôr as tripas pra fora, ser visto por dentro. E somente por um dentro de órgãos e sangues, pois teus olhos não alcançam mais minhas almas. Agora somos só pedaços. E eu, feito peso morto, um bolo de carne que se enfia em teus planos e te segue, procura uma brecha pra se encaixar novamente no teu compasso... mas que nada, agora é tudo ossos e sombras, quase estranhos. Quando falo, e me escutas, tua distância é tão grande que ouço minha própria voz ecoar perdida no tempo. Nos olhos vazios de tantas cores, minhas palavras são somente lembranças. Como pôde isso acontecer, nós que éramos tão um? Éramos começo e fim de um pensamento, conexão telepática dos nossos sentidos. Agora eu sento, olho-te e à tua nova vida. E eu não estou nela. Fala de mim como se eu não estivesse ali, apaixonada pela lembrança do que eu fui, cega do que eu sou. Mas eu ainda estou aqui, só que fora do teu horizonte. Erguendo as mãos pra que possas me enxergar, mas tua nova vista não deixa. O fantasma que criou de mim te faz pensar que estou ali, ao teu lado. Quando na verdade somos somente...vultos. E de tanto sacolejar braços, me bate o cansaço nas carnes e volto a ser moribunda no teu rastro. Nas minhas lembranças nós ainda havemos, mas nas tuas.... deixa, deixa pra lá. Vai, corre pra tua nova vida, que eu sobrevivo arranhada e muda cauterizando cortes e aprendendo a ser pedra. Pomes.
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