05 October, 2006

Contrarstes

Para: Augusto Jack, obrigada.





É por ele que eu espero todas as madrugadas. No fim das jornadas, voltamos sempre um para o outro. Como um ideal vivo, ele transita pela minha porta com a elegância de um passado bom... Passado... ele que nem é presente. O meu tempo nada nos olhos estáticos dos retratos espalhados pelo chão. E ele corre por aí feito um louco, descontrolado do próprio corpo, arrancando os galhos que o prendam a mim ou a qualquer pessoa. Espaços enormes, sossegos roubados, ele sua e se lava do que seu peito não quer conter. Ele corre de todos. Enfia-se pela mata à procura dos campos de concentração, da Guerra Santa, de Castelos. Dopado, ou talvez nem o esteja, chama uns amigos para acompanhá-lo... Bãh, mas que bobagem, ele sabe que está só. Rondado sempre por essa missão que ele pensa carregar acima de tudo. Pensando o mundo para esquecer-se de si. Lembrar-se? Não, não, um Homem de domínios, isso é o que ele é. Tudo. Sob. Controle. Mas ele sabe que não. Aparenta devaneios para testar calculado seus limites.. E nessa correria louca, ele acha seu espelho. Esquecido de tantas missões, de tantos ensinamentos, cai num sem-fim de peles que só a ele cabem. Sentindo cada membro como uma sinfonia. Um ponto de Luz. Esse é o Portal para entrar em seu corpo e nadar em seu conjunto. Células, pulmões, sonhos. Todo esse sistema que lhe vale tanto. Mas....falta algo. Nem todas as distâncias do mundo podem dar à ele o que deseja. Enquanto corre ele se despe das amarras de idéias velhas esverdeadas de mofo. Vai arrancando seus limites e reconstruindo cada pedaço desse seu Corpo. Ele faz música. Os gravetos quebrando sob seus pés são minha música de libertação. Fugimos da prisão, eu e ele. Porque quem já foi enterrado vivo no próprio peito aprende a se resguardar. E nos guardamos. Para um novo, para os novos mundos, para outros viveres. E eu fico aqui sentada enquanto ele dispara. Pisando forte essas raízes que podem machucar-lhe a pele, mas ele não se importa. Tem peitos abertos para os calos, para as dores. E enquanto ele limpa os dedos nas águas, abro minhas asas e procuro infinitos. Pois meu rumo é o horizonte, entre as nuvens, abrindo olhos e seguindo ventos. Ouvindo essa música que vem do chão, de onde ele está. Um corte na ponta da asa não me faz desistir, eu vivida de tantas dores de nenúfar. Passo por meus monstros tão rápido que nem os lembro os olhos. Não por medo ou covardia. Mas por desinteresse, simplesmente. Olhos que se fizeram presentes em meu terror não merecem minha constante atenção, justo quando tenho à frente todo esse mar.. Cortando a paisagem e fazendo chover a terra. Embriagados de sonos e deveres, as asas se gastam e é hora de voltar para casa. Para o chão. São quase três horas, ele chega já. Limpar seus suores nas minhas penas. Assim funcionamos. Vivos. Iguais.

10 comments:

Renata said...

Quase mitologias. Sátiros e Ícaros.

Anonymous said...

não entendi o "contrarstes"

César said...

depois da explicação, consegui entender...

Anonymous said...

ò, chuchu, depois de ler de novo (três dias depois da primeira leitura) captei melhor sua impressão das conversas. Fantástico, hein, na primeira metade do texto parece que captou mesmo qualé a "vibe". Hahaha
Conversaria muito contigo a esse respeito, você que vôa e eu que corro.
=*

Lee said...

Fala pra ele parar de correr. O vento vai sempre ultrapassar a gente de qualquer maneira. O que nos resta é sentir a brisa, a leve brisa do tempo que passou.
:)

Anonymous said...

gennnnnnnnteeeeee!

to anestesiada! nao consigo mais pensar em nada depois de ter lido esse texto re!!!! a nao ser os mesmos assuntos que abordou rs, claro!
demais demais!
por essas e outras que permaneço na esperança de te ver na academia de letras kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
posso fazer sua propaganda?????
rs

amei o texto! lindissimo mesmo!

beijaooooooooooooooo

consuelo said...

eu quero tua companhia

Elkinha said...

que texto lindo!
=T

Anonymous said...

Nunca conversa comigo sobre teus textos =/
Mas acho que é pq eu não saco todas as entrelinhas (amiga burra essa sua :/ aquy)

Esse eu gostei mais que dos outros XD

Só pra registrar

Anonymous said...

adorei a força meio que sinestesica... belisimo eu diria!