Escutando Sinatra, recordo toda a pompa que meu pai idolatrava ouvir em uma música. Uma voz grave, sinfonias e um piano empostado. Os ritmos de se dançar de par que tanto o agradavam. Bate uma saudade de ouvi-lo aumentar desconcertantemente a vitrola até seu Julio Iglesias gritar. Daquele espirro estrondoso que assustava os despreparados e das doses extras de força que fazia para realizar cada mínima tarefa diária. Assim como o esvaecer da força sobrehumana que fez para manter-se vivo até a noite de ontem, as 22h. Era verdade, tudo era verdade, meu Deus, as frases que habitavam minha cabeça sobre o que eu acredito, descubro-as encabulada habitando meu coração de forma tão profunda que me surpreende. Sinto a pele fria da minha dúvida ir embora junto ao caixão que se fecha, pás de terra sendo jogadas em cima de minha própria incerteza. Algumas lágrimas rolaram, muitos sorrisos saltaram. Meu Homem se foi, mas me habita. Minha Mulher acorda, mas ela sempre esteve aqui. E amanhã o sol nascerá distinto, sendo tão eternamente o mesmo, depois desta feliz Lua Cheia de Sagitário, limpando navegosa os excessos de sofrer. Obrigada.
20 January, 2011
19 January, 2011
Reifardo
Ao chegar em minha terra, sob circunstâncias tão específicas, senti o calor me pesar na cabeça como se fossem 30 sóis. Em menos de 02 dias, a saúde de meu pai declinou de tal maneira que todo minuto parecia ser O Minuto. No mesmo dia fui ao hospital, de branco no corpo e amarelo na alma, ver com meus olhos aquele que me chamava. E quem vi foi um homem magérrimo, de ossos incrivelmente expostos, pele seca e manchas de sangue coagulado pelos braços, rosto caveiroso e olhos tão fundos, perdidos em espasmos e viagens de morfina. Engolindo seco, peguei sua mão e massageei-lhe a testa e o peito; com tantos ossos do seu esterno em meus dedos, mirei sua íris acinzentada e desabei num soluço que não pude segurar, nem queria. Era ele, era a Hora.
Ao choque do primeiro momento, amanhecia o dia quando soube que amigos se encontrariam para meditar, e resolvi ir. Algo me dizia que indo até lá, eu ajudaria mais meu pai do que estando com ele fisicamente.
Após todos os saludos, inicia-se a Viagem. E nos meandros escuros dos meus pensamentos, vejo meu pai, que dorme e sorri o sorriso desdentado,como o que me dava todos os dias pela manhã. E então ecoa..
Rena, eu tou tão cansado...
Após todos os saludos, inicia-se a Viagem. E nos meandros escuros dos meus pensamentos, vejo meu pai, que dorme e sorri o sorriso desdentado,como o que me dava todos os dias pela manhã. E então ecoa..
Rena, eu tou tão cansado...
Ecoa.
Pois vai...
Pois vai...
É.... acho que eu vou...
Horas mais tarde, no hospital, um sorriso brota em meio às alucinações, pela primeira vez em meses. Percebo que aquele sorriso nos agradecia.. "Ei, que bom te ver", e colocamos nossas mãos no coração, e num abraço, repito: "pois vai". Um toc-toc leve atrás de mim, meu irmão chama. Talvez não passe dessa noite. E finalmente entendi. Pois vai.. acho que é Agora.
09 January, 2011
Rei De Mim
Apó um ano de muitas mudanças, geográficas e mentais, onde minhas formas de ver e limites foram levados até o limite ( será?), retorno a São Paulo repensando a vida como um todo, e percebo quaté então eu não a via como um todo, mas sim como fragmentos orbitando sob a mesma Certidão de Nascimento. Finco pés em solo decidida a conduzir todos os caminhos para rumo do meu bem quisto, com uma grande luz brilhando em cima da minha "qualidade de vida", que foi o titulo que dei ao que buscava nesse primeiro momento. Observei que quase tudo que eu vivia era tão sintético e distante de quem eu sabia minimamente que residia dentro de mim. E eu desejei, fortemente, que mnha vida mudasse. Dias foram dados e meu pedido foi atendido, e eu me assustei. Iniciou-se a fase mais louca e bailante da minha vida, onde meus dias eram danças de véu de muitas surpresas e loucas decisões-de-05-minutos. Perdi a casa, o emprego, a paciência. Decidi me despir, naquele momento de fogueira, de tudo que eu estava somente suportando, atirei as cucuias tudo que não me soava agradável. Percebo agora que algo se repete em minha vida, algo que a vida quer me mostrar e eu nunca a percebo, ou a percebo por alguns instantes e me esqueço de novo: A minha forma totali e solitária de conduzir as decisões mais sérias da minha vida. Mas, percebo agora um outro lado disso tudo qu eu mais uma vez não tinha percebido antes: que na verdade eu sou enormemente dependente de todo mundo à minha volta. Percebo que as frases que direcionei ultimamente à meu pai, como a grande descoberta que eu fiz acerca da personalidade dele é, mais uma vez, uma percepção acerca da minha própria. Eu sou exatamente assim. Refletindo agora, eu percebo que eu não compro uma batedeira sem consultar ao Jackson, que eu não boto um pé pra fora de casa sem ligar pa minha mãe e para a minha irmã e saber o que elas acham. Percebo que, durante todo esse tempo, circulou pelo meu ego a mensagem da minha super independência e do quão forte e destemida eu era, quando na verdade as qualidades que me cabem tem outros nomes, que não forte e destemida. Impetuosa, Impulsiva, talvez. Mas na verdade, eu percebo que eu esperneio, que eu choro e grito quando não sei o que fazer, quando meu corpo esá indo para um limite que eu desconheço. Eu tenho muitos medos. E eu ,na verdade, preciso sim ser ajudada, preciso ouvir conselhos, fico sem saber para onde ir e tem dias em que tudo que eu quero é um colo. Eu descubro dia após dia que eu não sou uma fortaleza, essa parede que eu aprendi a fingir ser pelas experiências que eu tive na minha vida. Eu sou uma menina. Menina. E a descoberta da minha energia feminina foi um outro vórtice na minha novela, porque eu até então não tinha dado conta de que sim, eu a portava. Percebo, no meio desse sofrimento que eu vivencio agora e desse novo fato tamásico que é estado grave de saúde de meu pai, que ele mais uma vez me ensinou quem eu sou. Através dele, e do que ele tem de insuportável, minha sensibilidade vinda da energia feminina se apercebeu do que nos conecta, do porque esse jeito de ele ser me incomodava tão profundamente. Ele era Eu. E ele sempre será eu, pois eu sempre carregarei em mim uma parte do que ele é, está aqui, entranhado na minha carne e na minha alma a diluição da alma dele. Esse foi o presente que Ele e minha mãe me deram, muito antes de me darem a vida. Antes desse mínimo momento onde o embrião nasce, os corpos doara suas energias com toda sua história dentro delas. E eis que eu brotei. Tudo isso é um tapa na cara da minha arrogância, isso vai contra tudo que eu senti a vida toda, eu que me achava injustiçada, incompreendida, destemida e bruta. E eu, mentalizando e raconalizando tudo, me caio em prantos pensando sobre a minha própria fraqueza, sobre o meu Grande Referencial na Vida que agora mesmo tão calado me ensinou outra vez. Lembro do choque que eu tive quando o vi daquele jeito, cheio de tubos, pálido, calado e com um olhar tão perdido, largado numa cama de hospital esperando a morte chegar. Eu procurei nos fiapos daquele olhar o homem que eu conheci, com quem eu me digladiei a vida inteira, lutando pelo meu próprio espaço, aquele homem que era tão Eu. O que eu encontrei foi um homem que cansou. Um homem que se deu por satisfeito e agora só aguarda. Não saberei jamais o que se passa na cabeça dele, ao perceber que a própria vida está prestes a se findar. Sua voz não fala mais, seus olhos também não. E dentro daquela entrega, eu encarei o próprio silêncio em mim. Afinal de contas, o que sou eu diante da imensidão da Vida? Eu sou uma parte, que se esquece de si e do todoe leva os encaixes tão a sério em sua geometria que não me animo com o encaixe em si. Percebo-me perdida, talvez ainda tentando achar por mim mesma, sem a loucura dominadora do meu pai que me encaminhava às respostas. Agora sou Eu, inteiramente, que devo aliar minha mente e meu coração para prestar essa reverência última ao Homem que eu mais amei. Quero sentir com o meu centro o que navega nas minhas idéias sobre morte, e acalmar esse choro desacalentado que se instalou por esses dias. Meu Eu Essencial sabe que ele cumpriu sua missão, que tudo é fruto de suas escolhas, que cada ser tem seu plano divino traçado e suas dificuldades a serem superadas durante a vida. Mas o Ego diz "Nãaaaaaaaao, não quero, não posso, pra quê?", que na verdade significa " Eu não pedi por isso, isto independe de mim, Eu não posso fazer nada contra isso". E não posso mesmo. Porque isso é da Saga Divina, dos Planos do Supremo. Eu em nada interfiro, eu, como filha, de meu pai físico e de meu pai espiritual, só posso seguir nessa vida, contemplando os brotos de tudo que desabrochará em amor e reverenciando à sabedoria do que rege o Todo. Somos partes, desse Todo. E nosso Grande Maestro conduz a finitude de um aspecto que não é a finitude eterna. Até porque o eterno não tem começo nem fim. Ele simplesmente existe.
Que o Amor se expanda em nossos corações e que abracemos as sementes dos novos bem querer.
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